terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Survival kit Andes Mountain Range - Aconcágua - Minimal - Kit minimo de Sobrevivência na Cordilheira dos Andes




      Eu pesquisei sobre os kit na internet para a Cordilheira dos Andes e não encontrei.
      Encontrei diversos para outras regiões, como machado e outros elementos que não tem finalidade nesta Cordilheira.
      Neste caso, dos 3.000 metros aos 3.600 metros aproximadamente, a vegetação se resume a escaços arbustos pequenos de uns 30 cm de altura, com pouco caule e de madeira extremamente densa. E, depois dessa altitude: pedras e farelo de pedras, riachos (depende do trajeto), e neve (e/ou gelo dependendo da altitude e estação do ano).
     Qual é a primeira necessidade humana para esse tipo de situação?  
     HIDRATAÇÃO!

     As expedições são altamente organizadas, com horários rígidos de saída e retorno aos acampamentos ou refúgios.
     Na mochilinha do andinista já encontramos alguns elementos obrigatórios, como a jaqueta impermeável (aconselho impermeável e transpirável), lanterna, canivete, kit primeiros socorros, alimentação, equipamento de orientação, localização e navegação, entre outros.
     A minha preocupação se deu na minha vivência. Retornando do vulcão Maipo - Argentina - nosso veículo ficou atolado na neve. Tivemos que derreter neve para hidratarmos, ali mesmo, na lateral da estrada.
    
    Esse é meu kit, visando  mais a hidratação que a alimentação.

01 embalagem rígida tipo caixa com sistema de fechamento;
01 tripé dobrável;
01 retângulo (30 x 30 cm) de  papel alumínio (duplo) para confecção de "recipiente" servindo fogareiro com combustível sólido e também de protetor de vento;
02 retângulos (30 x 30 cm) de papel alumínio (triplo) para confecção de panela onde irá a neve para ser derretida e ter água liquida;
05 (atualmente) porções de combustível sólido, feito com algodão e cera de vela;
01 vela pequena;
10 iniciadores de fogo (tiras de papel com cera);
15 fósforos;
02 lixas para os fósforos;
01 manta aluminizada;
01 barra de proteína (industrializada);
12 amêndoas "castanha do pará ou castanha do Brasil".
01 caixa plástica para acomodar os itens acima.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Um acontecimento de HAPE High Altitude Pulmonary Edema, por Thomas Schulze, história verídica.

EDEMA PULMONAR DE MONTANHA

            Era minha sexta expedição. Eu estava levando um brasileiro para um 6.000 metros* na Cordilheira dos Andes na Argentina, próximo a cidade de Mendoza.
            Após alguns dias de aclimatação, atingindo pequenos cerros de 3.000 metros de altitude, estávamos no acampamento base “El Salto d’Agua 4.300”. Chegamos no dia anterior e agora, programei pequenos passeios e a oportunidade de apresentar as técnicas de progressão sobre a neve. Escolhi uma “língua de neve” endurecida a 4.500 m para isso.
            Eu, meu cliente, minha ajudante (e esposa), e um casal de argentinos da cidade de Santa Fé, na província de mesmo nome, que conhecemos uns dias antes, acompanhávamos nas práticas das técnicas.
           O casal tinha observado negativamente a atitude de algum guia de montanha da região (não entramos em detalhes) que, caminhavam muito rápido, deixando os clientes para trás ou exaustos. E por isso, a sua pequena equipe (o casal) se juntara a nós.
(*) O Cerro Plata fora remedido e atualmente tem a marca de 5.947 metros de altitude. Muitos sites, inclusive alguns famosos mantêm as antigas marcas de 6.300, 6.100 e 6.000 metros de altitude.
            Subíamos e descíamos observando as técnicas de deslocamento com os grampons* e piolets**. Minha ajudante ficara na trilha em um ponto mais elevado fotografando nossa atividade. Derrepente ela me chamou e pude observar uma silueta humana com uma mochila enorme, ao seu lado. Fomos ao seu encontro. Era homem. Aparentava uns 30 anos. E seu rosto estava desfigurado pelo frio e pelo cansaço. Seu lábio estava rachado com sangue coagulado, sua face com queimaduras ocasionadas pelo sol ou pelo frio. Dividimos o equipamento dele em nossas mochilas. Ele, escoltado por nós, aos tropeços, chegou ao acampamento base. Montamos sua barraca e pode descansar. O casal de argentinos que nos acompanhava era composto por um médico (clinico geral) e uma advogada.
(*) Grampons é uma plataforma metálica de aço (existe de liga de alumínio) presa na bota por meio de alavanca ou correias, com pontas afiadas para baixo, fazendo com que se possa caminhar sobre neve dura ou gelo escorregadio sem deslizar e ocasionar um incidente ou acidente (alguns acidentes podem levar a óbito).
(**) Piolet é uma espécie de picareta leve feita de aço ou liga de alumínio com uma ponta em curva de um lado e uma “enxada” pequena do outro com um cabo comprido (antigamente de madeira e atualmente de liga de alumínio ou fibra de carbono), própria para deslocamento sobre neve ou gelo (inclinados). Também é chamado de machado para gelo, pois as primeiras ferramentas para isso eram de cortar o gelo para fazer degraus. Atualmente com o uso combinado de piolet de marcha e grampons, servem para auxiliar o deslocamento (para cima, para baixo ou lateralmente) e para travamento em caso de queda do alpinista. 
            O médico pediu meu estetoscópio emprestado, pois era o único no acampamento inteiro. Outras expedições com “guias” especializados, não tinham esse equipamento simples e de baixo valor. Foi constatado HAPE – Edema Pulmonar de Alta Altitude. O médico, apesar de não ter especialização em doenças relacionadas com altitude, começou a ficar preocupado. O casal, após uma longa conversa particular em sua barraca, sobre responsabilidades legais, decidiu abandonar sua expedição e acompanhar o andinista moribundo montanha abaixo. 
            Emprestamos uma mochila de ataque e revisamos os itens principais como lanterna, água e comida. O edemado levantou-se com dificuldade e, cambaleando acompanhou a dupla de jovens andinistas, que, já na sua primeira expedição já desenvolvia o espírito de solidariedade de montanha. Onde a vida é prioridade.
            Esse trajeto, do acampamento base para os primeiros grupos de casas (refúgios e hospedagens) lá embaixo a 2.800 metros de altitude, pode ser feito em 4 horas. Esse percurso, subindo e respeitando a aclimatação, é vencido em alguns dias, de 3 ou 4. Eu em um processo de aclimatação, já fizera em 10 horas, de 2.800 a 4.300 (acampamento base) e voltando a 2.800, para o refugio onde estava instalado.
            O trio deixou o acampamento de tarde pelas 15 horas. Desceram o sinuoso e abrupto acesso a esse acampamento, percorrendo, também, a trilha sobre um filo estreito com quedas de 3 a 5 metros de altura em ambos lados. “El Infernillo” é o seu   nome. Esse percurso foi assim batizado, pois no inverno, com neve e ventos fortíssimos o andinista é empurrado para esses mini abismos.
Ao longe acompanhávamos as três “formiguinhas” em uma trilha cinza clara sinuosa. Cada vez menores, como 3 pontinhos, desaparecendo no meio dos desníveis do terreno.
            Sabemos, após alguns dias que eles demoraram 8 horas para, com segurança, levar o enfermo debilitado pela hipóxia (que parava freqüentemente), a civilização e com isso para auxilio médico especializado.
Nós retornamos ao cronograma da expedição, no mesmo dia em que tudo isso aconteceu.

Fim desse episódio.